ABERTURA POLÍTICO-ECONÔMICA CHINESA
De acordo com Valadão e
Silva , é em 1979 que ocorre a abertura político-econômica da China. Sukup
(2002) comenta que com a essa abertura, a China teve destaque na modernização e
economia globalizada, desde a chegada do governante chinês Deng Xiaoping, dois
anos após a morte de Mao Tse Tung, a economia chinesa abriu-se rapidamente e
mostrou uma das maiores taxas de crescimento do mundo. Porém, é importante
salientar, que a China já tinha muitas experiências em mudanças radicais,
durante o século XX, passou por mais revoluções que qualquer outro país. Uma
das maiores preocupações salientadas no testamento de Deng, é o futuro dos
grupos étnicos minoritários que representam, pouco mais de 5% da população
total da China.
Na década de 1990, segundo
Medeiros (2006), é que ocorre uma incrível expansão de exportações e
investimentos privados. Na mesma época, para Valadão e Silva , ocorre a
elevação do PIB. Essa elevação do Produto Interno Bruto chinês foi possível graças
à inserção da economia chinesa no comércio internacional, que se deu devido à
especialização e o desenvolvimento tecnológico. .
Em 1997, no entanto,
acontece o declínio das exportações e do PIB da China, ocorrido em consequência
da Crise Asiática, que desvalorizou a moeda e os preços dos ativos nos mercados
acionários do continente. Para conter tal situação, de acordo com Medeiros
(2006), a China acelera os gastos públicos, investindo em tecnologia e
infraestrutura, e relaxa o crédito dos bancos públicos. De acordo com Almeida
(2009), a china possuía um PIB equivalente a quase um terço do PIB mundial até
o fim do século XVIII, ela regrediu a menos de 5% do PIB global nos anos 1960,
recuperando alguma parte da perda, só nos anos 2000.
Essa tão mencionada abertura
político-econômica reflete diretamente no processo de globalização que, segundo
Sekup (2002), tem dado à China um papel de destaque no mundo do século XXI. Nesse
âmbito, não é possível prever como a China será no dia de amanhã, mas dado o
seu peso demográfico, econômico e político, não restam dúvidas que a China será
essencial no cenário mundial do século XXI. Antes o posto era do Japão, hoje em
dia a china se sobressai cada vez mais como locomotiva econômica regional.
Setup (2002) afirma que alguns
observadores salientam que o nível de vida do chinês melhorou
consideravelmente, especialmente entre os agricultores, tudo é abundante para à
massa camponesa.
Outra informação
interessante trazida pelo autor, é que o grande desenvolvimento chinês não pode
ser esquecido como referência aos “tigres”, pois dois deles são chineses.
Porém, a China também tem seus lados ruins, como por exemplo, o fato de ser um
país que bate o recorde mundial em matéria de pena de morte e seu sistema
jurídico-policial está longe das normas democráticas.
REFORMAS ECONÔMICAS
Ribeiro (2008) sinaliza que
a mudança da situação econômica da China se dá em virtude das reformas
econômicas na agricultura e no setor industrial.
Medeiros (1999, apud
RIBEIRO, 2008, p. 98) afirma que a “autorização, concedida pelo estado chinês
já em 1979, de que parte do excedente agrícola pudesse ser comercializado
livremente (...) pelos produtores/ camponeses”, foi de grande importância para
os resultados da reforma agrícola.
As terras eram propriedade
do Estado, que as “emprestava” à cooperativas de famílias e famílias
individuais, em troca da venda de parte da produção para ele.
De acordo com Ribeiro
(2008), essa mudança estimulou os camponeses, que passaram a produzir mais.
Para se ter uma ideia, antes da reforma, em 1977, a produção de grãos e carne
eram de 300 e 100 kg, respectivamente, já em 1984 esses números saltaram para
400 e 200 Kg, respectivamente.
Outro motivo que, segundo
Ribeiro (2008), colaborou para a mudança no cenário agrícola relaciona-se às
grandes obras hidráulicas, que aumentaram a parte irrigada do país, além da
implantação de grandes empresas industriais estatais produtoras de insumos
modernos para a agricultura, que atenderam às demandas das famílias chinesas.
Esse cenário, para Ribeiro
(2008, p. 99), favoreceu o “aumento na renda do camponês e a expansão do
mercado de bens de consumo”.
As reformas no setor
industrial, comenta Ribeiro (2008), referem-se à mudança do monopólio do
Estado, presente no período de Mao Tse Tung e a atenção que o governo deu à
atração dos investimentos estrangeiros e o estímulo às exportações, através,
principalmente, das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs).
O Estado passou a apoiar as
empresas coletivas e privadas, no intuito de possibilitar o estímulo da
produção industrial. Foi estabelecido que as empresas poderiam ter metade do
lucro, após a dedução dos custos, cedendo a outra metade para o Estado.
Anteriormente, o lucro era somente do Estado.
O reflexo disso foi o
aumento da participação das empresas coletivas no produto industrial, de 9% em
1978, para 28% em 1996. Houve também o aumento das privadas e estrangeiras e a
redução das estatais, de 77% em 1978, para 38% em 1996.
Outro progresso foi a
separação entre o orçamento das empresas e o orçamento fiscal do governo.
Ribeiro (2008) enfatiza que
a capacidade de atração das empresas estrangeiras foi possível, devido à
estratégia de criação das Zonas Econômicas Especiais. As ZEEs nada mais são do
que ambientes que se utilizam de medidas/políticas distintas de comércio, de
modo estratégico, na intenção de atrair investimentos.
As ZEEs foram criadas a
partir de 1979 e têm como características: prática de preços livres;
dependência do capital estrangeiro; captação de investimentos externos etc.
Quanto aos benefícios
concedidos pelo governo aos investidores, segundo Ribeiro (2008), tem-se:
preferências fiscais (IR mais baixo para empresas); isenção de impostos sobre o
uso da terra para: institutos científicos, empreendimentos tecnológicos e sobre
importações de matérias-primas, peças e equipamentos; isenções de impostos de
exportação; autonomia administrativa (contratação/demissão de funcionários);
concessão de créditos pelo Banco da China etc. Tais benefícios foram cruciais
para o favorecimento das exportações e dos Investimentos Diretos Estrangeiros.
Há também o outro lado de
toda a estratégia e o investimento nessas reformas, é a desigualdade econômica
e social, de acordo com Ribeiro (2008).
Os investimentos Diretos Estrangeiros
concentram-se, em sua maioria, em
algumas províncias. “A desigualdade na distribuição de IDEs também é percebida
quando se analisam os resultados entre as províncias, relativamente ao
investimento do governo, às exportações e ao próprio crescimento econômico”
(RIBEIRO, 2008, p. 107).
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P&D)
Nonnenberg (2010) traz a
informação de que cada vez mais a China vem investindo em P&D, o que
impulsiona o crescimento do país, além de incentivar a especialização em
ciências e tecnologias. Com isso, a China investe em educação, devido à
necessidade crescente de ter profissionais qualificados e que consigam realizar
atividades focadas no crescimento, desenvolvimento e aperfeiçoamento das
tecnologias, e ao mesmo tempo se torna exportadora dessas tecnologias.
O autor ainda traz uma
informação interessante: a China gasta com P&D apesar de não estar entre os
países com maior percentual de alfabetizados.
Desse modo, é importante
perceber que a China, mesmo vivendo uma “dupla realidade”, ou seja, de um lado
o grande desenvolvimento político, econômico e tecnológico e de outro a
precariedade no que tange à educação de base, procura a melhoria constante de
seus indicadores, utilizando estratégias planejadas cuidadosamente.
POUPANÇA E INVESTIMENTO
De acordo com Nonnenberg
(2010), a china possui taxas de poupança elevadas. Isso se deve aos menores
gastos com educação, saúde e previdência. O autor afirma que ocorre um grande
incentivo à poupança, que pode favorecer um consumo futuro.
No que diz respeito à
poupança das empresas, o autor comenta que desde 2002 ocorreu uma elevação
nesse âmbito. Abaixo seguem algumas causas, segundo ele, que corroboraram para
tal acontecimento:
1)
Aumento da lucratividade das empresas;
2)
Política de distribuição de dividendos
- O Estado (acionista
majoritário da maioria das empresas) não os recebe e os acionistas privados
recebem poucos.
3)
Acumulação de capital
- Estimulou a retenção de
parcela dos lucros, possibilitando om maior crescimento econômico.
Advindos principalmente das
empresas, segundo Nonnenberg (2010), os investimentos são limitados em virtude
do retorno esperado de novos projetos.
O autor afirma que para não
haver a redução do retorno de novos investimentos, impactando o processo de
crescimento, é preciso que o aumento da capacidade de produção chinesa seja
acompanhado pela expansão do consumo.
ALGUMAS CAUSAS DO CRESCIMENTO CHINÊS
·
Liberalização do sistema de formação de
preços
- O governo central fixava a
produção com o preço já determinado, o que restava poderia ser negociado
livremente.
·
Criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs)
- Região geográfica de um país que
possibilita o incentivo ao desenvolvimento econômico da região e a atração de
investimentos.
·
Mão-de-obra rural
- Grande contingente, baixos
salários, crescente demanda por trabalho.
·
Ausência de proteção à propriedade
intelectual
- Apropriação ilegal do
conhecimento advindo do exterior, para a produção, por conta própria, de
produtos semelhantes, por preços mais baixos.
·
Favorecimento de economias de escala, devido
ao tamanho da população
Produz:
83 milhões de
televisores/ano
420 milhões de toneladas de aço bruto
1,2 bilhão de toneladas de cimento
·
Incentivo à inovação, transferência e geração
de ciência e tecnologia
- Possibilitou a atração de
investidores e o aumento nas exportações.
RATING
DA CHINA
A agência de classificação de risco Moody's afirmou o rating dos títulos
do governo da China em "Aa3", mas cortou a perspectiva de positiva
para estável, a segunda revisão pessimista feita por uma agência de
classificação internacional neste mês (AGÊNCIA REBAIXA...2013).
O Rating de crédito de longo prazo da
china havia passado de AA- para A+, ou
seja, passou de uma qualidade de crédito muito alta, capacidade muito forte de
honrar seus compromissos financeiros e risco de crédito bastante baixo, para
qualidade de crédito alta, capacidade forte de honrar seus compromissos
financeiros, mas é um pouco mais suscetível às condições econômicas e situações
econômicas adversas do que os ratings anteriores. Tudo isso devido às
preocupações com o aumento do risco mediante os empréstimos excessivos do
governo.
O novo rating da china de Aa3 é
devido aos fundamentos de crédito firmado pelo elevado crescimento econômico, e
as fortes finanças do governo. Porém é necessário que haja novas reformas a fim
de evitar o aumento do risco. Toda via, os ativos externos da China ultrapassam
sua responsabilidade financeira em US$
1,8 trilhões.
CURIOSIDADES
Medeiros (2006)
·
A construção civil é alvo de grande
investimento;
·
A taxa de urbanização cresceu nos últimos 30
anos, 38% a.a.;
·
Entre 2000 e 2003, os EUA importaram da China
50% a mais.
Nonnenberg (2010)
·
Crescimento da importação de combustíveis;
- Déficit de fontes de
energia, principalmente o petróleo.
·
Crescimento da importação de minerais;
- Demanda superior à oferta
(apesar de ser o maior produtor mundial de minério de ferro).
·
Aumento dos gastos em investimento;
·
Incentivo à P&D – Inovação
·
Ampliação de gastos militares (10% do seu
orçamento), aumentando gradativamente sua participação na economia mundial, e
ocasionando, consequentemente, o crescimento de possíveis conflitos.
Sukup (2002)
·
A participação da China nas exportações
mundiais de produtos de manufatura aumentou de 0,8 para 3,6% entre 1985 e 1995.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi visto
anteriormente, a partir de 1979 a China realiza sua abertura
político-econômica, o que possibilitou a expansão das exportações e dos
investimentos, no longo prazo, fazendo com que pudesse acompanhar uma economia
mundial cada vez mais globalizada.
Muitas das melhorias no
cenário chinês se dão em virtude das reformas econômicas na agricultura, que
foi importante para estimular a produção, e no setor industrial, que
possibilitou a atração dos investimentos estrangeiros e estimulou às
exportações.
A criação das ZEEs, o
crescimento da mão-de-obra rural, a negociação livre de preços, o incentivo à inovação
etc., são apontados como causas do crescimento do país. Nesse novo cenário, é
possível perceber que a China vem tentando alcançar a modernização e a inserção
na economia mundial.
Acerca da avaliação e
classificação dos riscos dos ativos chineses, é possível afirmar que o país
possui qualidade alta de crédito, capacidade boa de honrar seus compromissos e
é mais suscetível às condições e situações econômicas adversas do que os
ratings anteriores. Portanto, é um país relativamente seguro de se aplicar.
Observou-se, também, que o
grande crescimento e desenvolvimento econômico chinês, é acompanhado por uma
grande desigualdade econômica e social, justamente por conta dos investimentos
serem realizados visando à ascensão de algumas províncias (por questões de
localização geográfica). Outro ponto negativo é o recorde de penas de morte e a
falta de democracia no âmbito jurídico-policial no país.
Referências
AGÊNCIA REBAIXA avaliação da
China com dados mais fracos de crescimento. UOL Economia, São Paulo,
Abr. 2013. Disponível em: < http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/04/16/agencia-rebaixa-avaliacao-da-china-com-dados-mais-fracos-de-crescimento.htm> Acesso em: 11 de maio de 2013.
MEDEIROS,
Carlos Aguiar de. A China como um duplo pólo na economia mundial e a
recentralização da economia asiática. Rev. Econ.
Polit. [online]. 2006, vol.26, n.3, pp. 381-400. ISSN 0101-3157. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/rep/v26n3/a04v26n3.pdf>. Acesso em: 08 de maio de 2013.
NONNENBERG,
Marcelo José Braga. China: estabilidade e crescimento econômico. Rev. Econ. Polit. [online]. 2010, vol.30, n.2, pp.
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em:<http://www.scielo.br/pdf/rep/v30n2/02.pdf>. Acesso em: 08 de maio de 2013.
RIBEIRO, Valéria Lopes. A
china e a economia mundial: uma abordagem sobre a ascensão chinesa na segunda
metade do século XX. Florianópolis, 2008. Disponível em:<http://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/91791/259763.pdf?sequence=1>. Acesso em: 09 de maio de 2013
SUKUP, Viktor. A
China frente à globalização: desafios e oportunidades. Rev. bras. polít. int. [online]. 2002, vol.45, n.2, pp.
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VALADÃO, Marcos Aurélio Pereira; SILVA,
Lauriana Magalhães. Economia chinesa: evolução e tendências. [S.l.],
[20--?]. Revista do Mestrado em Direito. Disponível em:<http://portalrevistas.ucb.br/index.php/rvmd/article/viewFile/2561/1554>. Acesso em: 11 de maio de 2013.